segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Alternativa econômica


Frutas secas regionais conquistam o mundo


Umbu, xiquexique, mandacaru, entre outras delícias dos biomas do Brasil dão toque diferente à mesa do consumidor e ampliam os negócios de produtores e comerciantes

por Hanny Guimarães | Fotos: Roberto Seba
Roberto Seba
O comerciante Leonardo Chiappeta acredita que a disposição dos produtos na loja é um fator determinante para chamar a atenção do cliente
No Mercado Municipal de São Paulo, a loja de Leonardo Chiappeta chama a atenção. O colorido das diversas frutas secas estrategicamente dispostas na vitrine do Empório Chiappeta atrai centenas de consumidores, ansiosos pelas novidades garimpadas pelo comerciante. Há mais de 10 anos, ele vende o produto desidratado, mas foi o trabalho comprodutores rurais do Nordeste que impulsionou uma nova oportunidade de mercado.
Convidado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em 2004, para ensinar o processo de secagem de frutas a agricultores do Piauí, Leonardo enxergou nas frutas regionais a possibilidade de inovar o segmento, ajudando a gerar renda para as comunidades locais e preservar produtos tipicamente brasileiros. O que começou com o caju piauiense avança, agora, para outros estados que antes, muitas vezes, desperdiçavam grande parte da produção, como o xique-xique, o umbu e o mandacaru da Caatinga, além de frutas de outros biomas do país.
Roberto Seba
Caqui e jenipapo secos são algumas das opções disponíveis no Empório Chiappeta
Leonardo afirma que, atualmente, o Brasil produz 42 milhões de toneladas de frutas, mas nem 1% desse volume é desidratado. O produto que passou do estágio de consumo acaba sendo inutilizado, mas pode ser aproveitado com a secagem. “Há uma janela enorme de mercado aberta. É preciso valorizar o que é nosso e investir naquilo que é ecológico e socialmente sustentável. Oferecer o artesanal, mas melhorar as condições rudimentares de apresentação desses alimentos”, comenta.
 
Processamento 
processo milenar se sofisticou com o passar dos anos. Na antiguidade, a secagem era natural, feita com exposição ao sol, e o método ajudava a preservar os alimentos. Com a percepção de que o produto durava mais – geralmente um ano –, as frutas foram incluídas no cardápio militar, nas guerras do século 20, quando os países desenvolveram novas técnicas de desidratação. 

Nos estados onde estão sendo desenvolvidos as frutas secas brasileiras, o Sebrae aloca recursos para a instalação de estruturas de secagem, com fornos especiais para realizar o processo. O trabalho é realizado em conjunto com produtores envolvidos em cooperativas. O agricultor seleciona o fruto no seu melhor estágio (maduro, mas não passado, que já não vai mais para o mercado) e o beneficiamento é feito na região. “A ideia é que processamento permaneça nas localidades onde os produtores estão instalados, assim tem trabalho para todo mundo”, diz Leonardo.
Roberto Seba
Caju e até melancia rendem frutas desidratadas que podem ser consumidar puras ou utilizadas na culinária
Os cortes das frutas são diversos, mas depende do produto e da aplicação que ele terá. Todo o trabalho é guiado por Leonardo, engenheiro mecânico de formação, e apaixonado pelo processo. Além de durar mais, a secagem concentra os nutrientes, o que ajuda a aumentar ainda mais a procura pelo produto.
Mercado 
A estrutura básica para produção custa cerca de R$ 100 mil. Para exportação, o investimento é maior e pode chegar a mais de R$ 1 milhão. “A gente tem condição de exportar. A banana já está neste nível. Isso vai para o mundo todo. Já temos canais de distribuição na Espanha e na Itália, mas precisamos ficar mais competitivos. Os produtores precisam evoluir com certificados e absorção de tecnologias”, explica.
Roberto Seba
O umbu da Caatinga se destaca pela beleza do produto e pelo sabor preservado pelo processo de secagem
Hoje, o desenvolvimento de projetos em frutas secas é realizado com agricultores de diversas regiões do país comoAmazônia (cupuaçugraviolataperebáaçaí), Caatinga (umbuxique-xiquemandacarumaracujá), Cerrado (baru,cajucagaita), Pantanal (pequimanga), Mata Atlântica (caquigoiabamaçãcaju), Pampa (pinhãobergamota,pêssego) e Costeiro (cocoabacaxi, jacabananamanga).
Os produtos foram apresentados para a rede de supermercados Pão de Açúcar e já começam a ser comercializados. Em São Paulo, o empório Santa Luzia também destaca as frutas em suas gôndolas e as três lojas da família Chiappeta estimam vender este ano cerca de 20 toneladas dessas iguarias, onde os preços variam de R$ 12 a R$ 120 o quilo.

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