Não é só culpa do homem
Os dias não têm sido exatamente tranquilos para os defensores das teses que tentam explicar o aquecimento global como um fenômeno ligado ao desenvolvimento econômico.
Mais exatamente à emissão de gases tóxicos ou poluentes por engenhocas produzidas pelo homem.
O aumento da temperatura média dos oceanos e do ar perto da superfície vem ocorrendo desde meados do século XX e a previsão é de que deverá continuar neste século.
É o que diz o IV Relatório do Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas de 2007.
A temperatura aumentou 0,18 graus centígrados durante o século XX. A maior parte desse aumento foi provocada pela crescente concentração de gases do efeito estufa, resultante da atividade humana, seja pela queima de combustíveis fósseis, seja pelo deflorestamento.
Havia um quase consenso em torno da antropogênia do aquecimento, praticamente ratificada pelos 187 signatários do protocolo de Kioto, em 2009.
No entanto, em meados de setembro, o prêmio Nobel de Física, Ivar Glaever, desligou-se da Sociedade Americana de Física afirmando que os estudos do aquecimento global são uma pseudociência.
A sociedade científica respondeu com uma nota negando que houvesse uma debandada de seguidores da sua linha de investigação.
E reafirma na nota a sua convicção de que o aquecimento é provocado pelo homem. Ou seja a própria nota é um indício claro de que existe algo por trás das conclusões sobre o aquecimento.
Ao falar em “debandada”, admite que a discussão vai muito além da convicção (ou da falta dela) de um só cientista. Na verdade, a Sociedade Americana de Física ignorou um pedido de revisão de suas posições sobre o aquecimento assinada por um grupo de 160 físicos, entre eles o próprio Glaever.
Essa movimentação da chamada “ala cética”, que pretende contrariar as conclusões da ala “aquecimentista”, foi engrossada, agora, pela pesquisa da geógrafa da USP, Daniela de Souza Cobra, sob o título “Quando o sol brilha, eles fogem para a sombra”, pouco usual em material científico.
Na pesquisa, Daniela afirma com todas as letras (e números) que as várias teorias estabelecidas sobre o aquecimento global não passam de resultados de modelos matemáticos do clima.
A geógrafa brasileira conclui que não foi encontrada até hoje nenhuma prova ou evidência de que o aquecimento do planeta esteja sendo provocado pelo homem.
“Provas” como o derretimento das geleiras, enchentes, furacões, secas, etc., tudo faria parte da variabilidade natural do sistema climático.
Com uma agravante. Daniela constata que contrariar a hipótese dominante é, hoje, considerado um grave pecado contra o progresso da ciência e o futuro da humanidade.
Na opinião da geógrafa, vários problemas sociais e econômicos não são provocados por mudanças climáticas mas sim pela estrutura excludente do capitalismo. E exemplifica com a escassez de água potável que não é provocada pela redução das chuvas, mas sim pela pressão crescente sobre os recursos hídricos cada vez menos conservados.
Daniela é taxativa ao afirmar que a pobreza e a miséria não são provocadas por nenhum fenômeno climático, e sim pela concentração de renda.
Ou seja, estaria havendo uma indesejável e perturbadora intromissão político-ideológica na esfera da ciência. Daniela acrescenta que essa atitude tem impedido a liberdade científica.Como prova disso afirma que hoje é praticamente impossível publicar-se um artigo que não chegue às conclusões que a comunidade científica transformou em dogma.
Desde Galileu sabemos do risco de dogmas na atividade científica. A professora Souza Cobra também pensa assim quando afirma que cada indivíduo tem sua parte de culpa.
O que não se pode aceitar é que o capitalismo predador seja o único responsável pelo aquecimento. A concentração de renda – e de poder – é sem dúvida um grande culpado. Mas os desastres ambientais acontecem também em regiões onde sequer se ouviu falar em capitalismo e seus efeitos são muitas vezes trágicos nas “repúblicas populares”, de onde o capitalismo foi formalmente banido.
E não se pode inocentar o homem em qualquer circunstância. Desde o dia em que um deles arrancou um galho de árvore e fez uma fogueira para se aquecer até os engenheiros da Usina de Fukushima, por trás do aquecimento global existe sempre uma sombra humana.
Que um dia, dentro de séculos ou milênios, desaparecerá da face da Terra, como desapareceram os dinossauros, deixando apenas poucos vestígios de sua passagem pelo planeta. Em Marte, ninguém notará.
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